quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Morrer


Cena do  solo  "A Morte do Cisne", bailarina Anna Pavlova, coreografia de Michel Fokine


Á um certo Ninguém

Existe um Negro Lago
E quando eu durmo
Lá me banho
E tudo é esquecimento.

Nem eu mesma
Sou lá...
Nada é.

Lá é onde
todos os por quês
vão pra puta que pariu,
todos os tormentos
viram fumaça
Todas as explicações
E teorias sem-razão
Não valem nada
e se calam
como se nunca houvessem existido.

No Lago Negro
meu "viver" se resume
em inspirar e expirar,
Nada me preocupa.
também nada é minimamente feliz.

Cheiro, som, temperatura...
Nada!
Nem sonhos
O mais remoto dos zumbidos
é uma realidade longínqua e inexistente.
As águas trazem tudo
Pro fundo
e lá tudo se dissolve
e tudo se transforma em nada
numa água atemporal...
Nem lago existe.

Dormir pra mim
virou passagem
virou viagem
pra um lugar
onde tudo é morte
Sem morrer.

Tudo dorme
magicamente
desfigurando-se
e se esvaindo como o tempo.
Sem ser e sendo ao mesmo tempo
Na mesma proporção.
Por que duvidar,
se as existências de lá
são inexistências apalpáveis?
Por que duvidar,
se é só lá que Nada existe?

O Nada
é a única coisa descritível
no Lago Negro
E sua única característica.

Diz-se que o preto
É a ausência de cores,
Mas lá isso é tudo
Tudo ausência.

Talvez o lago
Expulse tudo!
E minha alma teimosa
transcende
e entra lá de metida
Pra morrer um pouquinho
Antes de ser expulsa...

domingo, 7 de agosto de 2011

Depois de uma pausa

Essa vontade louca
de não parar jamais,
de não deixar que pare a caneta
que se faz nervosa pela minha mão,
e esta pelo meu peito;
parece gritar.

E tudo quer sair ao mesmo tempo
Porque a loucura estática
também se apresenta
e tudo se cala
e nada anda
e eu só durmo.

Alguma Poesia

Gustav Klimt (parte da tela)




Ainda há de cantar
neste peito taciturno e dormente
uma música de dormir em paz.

Algo que seja
extremamente bom
Aquele sossego de  rede
de sono profundo
de comida gostosa
de olhos mansos
como quem nunca esperou por nada.

Ainda há de cantar no meu
tresloucado peito,
agora quase mudo,
uma canção de sossego
E fará acordar em mim
todos os versos
os versos mais sinceros
mais cortantes e languidos e pungentes
que só a mão
que pulsa sossegada
toca e pega e segura
os convida a passear.

No meu peito
demasiado cheio
de palavras e sentimentos repetidos
Ainda há de calar
Essa música dissonante
que só quer se mostrar muito boa,
boa demais


E quando essa canção dissonante calar
No meu peito há de cantar
Uma canção de sossego.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema de Estrada

Tamara de Lempicka

Não sei o que se passa
tudo parece anestesiado e remoto
não sinto saudade,
nem a mais vaga lembrança
as coisas passam por mim
numa languidez tácita
mas tão calada
que chega a ser um apelo
para que eu as olhe.

Me enche o saco
Todo esse meu egocentrismo
que me faz
falar só de mim,
o que me acontece,
o que se passa
apenas cá dentro.

E é como se tudo dependesse
da minha capacidade
de fazer com que as coisas
façam parte de mim,
Como se elas não existissem do lado de fora

Mas do lado de fora
elas de fato
não existem Aqui dentro.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Insones

Égon Schiele
Quando cair o véu noturno
Quero que me coma.
O teu pau em minha entranha.
A tua língua que me arranha
o céu da boca
e o juízo.

Um desejo vil
de deitar na tua cama
amasssada e suja
de espasmas
e espermas
abrindo poros e pernas
até deixar o corpo rubro.

Quero deixar suor e pêlos
impressos no teu lençol
que irá ao chão com desespero
assim como nossas roupas
que não servem pra nada.

sábado, 4 de junho de 2011

O Arquiteto

à Átila
"eu É o espaço"


Passo pelas ruas, olho tudo. Olho as folhas no chão, olho as árvores dando sombra na calçada, olho os númeors das casas; como as pessoas arrumam suas coisas.
Levo comigo tantas coisas, quero um pedaço de cada casa, pra com por a minha casa. Mas quando junto tudo fica tudo sem sentido. Levo na lembrança várias salas, cantinhos de jardins e árvores e banquinhos e paredes e tintas. Mas quanto junto tudo pra formar minha casa, a casa mais bonita, com todos os cantinhos e coisinhas que eu colhi nas ruas, quando junto tudo isso vejo que não tem nada do que eu colhi.
Naquela varanda que eu vi, alguém beberia café e pensaria nas coisas olhando a chuva cair; naquela sala alguém ouviria música com os amigos e a noite seria boa; aquele jardim iria trazer todo um cheiro, toda uma cor à minha casa; aquela árvore acentuaria toda pacatez gostosa daquele lugar, e eu podeira fumar sossegadamente embaixo dela enquanto observava o resto da rua; as cores das paredes traduziriam todo o espírito de alegria sossegada de quem lá morasse.
Por que minha casa não tem uma forma?
Se eu trago tudo para deixa-la boa, por quê não fica?
Eu sei o porquê, descobri esses dias...
Quando passo pelas ruas, olhando as casas etudo o mais, afim de levar algo pra mim, eu só quero levar imagens, mas o quê de fato eu gosto é o Sentir, é isso que me apraz em certas casas: O que elas fazerm sentir, e isso eu não se se leva...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Onde tudo é Silêncio

Ègon Schiele

Engraçado como tudo aqui é silêncio.
Lá fora são montanhas de concreto e papelão
umas atrás das outras.
Tudo passa.
Tudo passando.
Tudo movendo e aqui só silêncio...

O sol movendo as folhas,
O vento movendo as nuvens,
Os compromissos movendo pernas
A vida correndo barulhenta
e aqui tudo silêncio.

Os moto taxistas conversando sobre o jogo do bicho
A vendedora que chama o cliente de "amor"
pra venda ser mais "prazerosa",
O cara que varre a calçada e olha a saia da menina...

Tudo vivendo morbidamente
com uma alegria contida,
calada
languida
e quase triste
Enquanto aqui é só silêncio
Enquanto aqui tudo parece estático e transparente
Como um vidro de boutique.